terça-feira, 30 de outubro de 2012

Looper - Reflexo Assassino, de Rian Johnson (2012)


Correndo o risco de ser um pouco provocador, começo este texto por questionar se «Looper - Reflexo Assassino» será um daqueles filmes de ficção científica pura, que irá ser visto no futuro como um dos clássicos do género, recordado a par de filmes que alcançaram o estatuto de culto, como «Blade Runner», nos anos 1980, «12 Macacos», na década de 1990, ou «Matrix», mais recentemente. As comparações com estes dois últimos têm sido feitas um pouco por todo o lado mas parecem-me, tal como diria Mark Twain sobre os rumores em torno da sua morte, manifestamente exageradas.

Realizado por Rian Johnson, que nos tinha apresentado há alguns anos um bem recebido «Os Irmãos Bloom» (filme interessante que teve um hype um pouco exagerado, a meu ver, mas nada que um segundo visionamento no futuro não resolva para confirmar), o novo filme deste cineasta tem à partida uma vantagem para chegar a um público mais vasto que não apenas os adeptos hard core da ficção científica: não complica demasiado na hora de explicar os ‘termos mais técnicos’ do mundo que é retratado. Neste caso entramos num mundo onde as viagens no tempo são possíveis mas ilegais, porque começaram a ser utilizadas por grupos de criminosos para fins menos próprios: enviar as suas vítimas para 30 anos no passado. Uma vez neste passado as vítimas são mortas por assassinos profissionais, chamados loopers, e despachadas sem deixar rasto no futuro, de onde vêm, pois deixaram de existir nesse mesmo futuro porque morreram há 30 anos.

Tudo muito simples e eficaz até ao dia em que um destes loopers, Joe (Joseph Gordon-Levitt), recebe como vítima a sua versão no futuro, interpretada por Bruce Willis, e acaba por não saber bem o que fazer. Contar seja o que for do filme a partir daqui é estragar completamente a surpresa de quem for ver «Looper - Reflexo Assassino», cuja história acaba por aproximá-lo mais do cinema clássico do que propriamente da ficção científica. Esticando um pouco mais a corda do exagero (ou talvez não), quase que podemos acrescentar que aqui as viagens do tempo são o macguffin, termo tão caro ao mestre Hitchcock, que apenas está no filme como pretexto para contar a história.

Daí que este «Looper - Reflexo Assassino» possa vir a ser uma desilusão para quem for à procura de um filme de ficção científica pura e dura, com grandes teorias sobre a humanidade e as tecnologias, que não deixam de estar presentes, mas não são de todo o que mais importa no filme, que consegue ser uma obra que garante o que lhe é pedido: bom entretenimento, sem grandes complicações. E como seria fácil, como tem acontecido noutros títulos do género, Rian Johnson cair no caminho da complicação para nos apresentar o mundo de «Looper - Reflexo Assassino». Aqui não há nada disso, apenas um filme que irá deliciar quem pretende assistir a uma boa fita bem diferente do que é normal no mainstream norte-americano, onde, se formos obrigados a colocar o mais recente filme do realizador numa categoria, não ficaria nada mal.

Outra boa surpresa, ou talvez não para quem tem acompanhado o percurso de Joseph Gordon-Levitt, é a interpretação deste actor que tem vindo a cimentar uma excelente carreira ao longo dos últimos anos. Aqui arranca mais uma boa interpretação, no papel de ‘herói de acção’, bem diferente do que lhe conhecíamos. Esta interpretação apenas acaba por ser de certa forma eclipsada por uma caracterização um pouco exagerada, que serve para tornar o actor mais parecido com Bruce Willis. Este é mesmo mais um daqueles casos em que a caracterização não traz nada de novo ao filme e acaba por nos distrair do essencial. Fora isso, «Looper - Reflexo Assassino» tem tudo para ser um dos bons candidatos a outsider do ano.

Classificação: 4\5

2 comentários:

  1. Exacto um 4 assenta-lhe bem. O Johnson gosta de brincar com géneros cinematográficos, já no Brick o havia feito muito bem.

    E aqui nota-se isso, como dizes não se sente como sci-fi pura e dura. Acho que é um realizador a estar atento. Ver se vejo o outro dele.

    abraço

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    1. Já fazia um pouco o mesmo nos Irmãos Bloom, mas na altura lembro-me de não ter ficado fascinado com o filme. Tenho de o rever para tirar a prova dos nove. Esse Brick também tenho de o ver um dia destes, já tenho mais boas referências além das tuas.

      Abraço

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