domingo, 27 de janeiro de 2013

Django Libertado, de Quentin Tarantino (2012)

Chegamos ao início de 2013 com a estreia de um dos filmes mais aguardados por muito boa gente. Ao nono filme Quentin Tarantino resolveu fazer o que melhor sabe e atirar-se de cabeça a mais um dos seus géneros favoritos. Desta vez a escolha foi o western mas, ao contrário do que muitos pensaram, o novo filme de Quentin Tarantino não é uma homenagem apenas aos western spaghettis de culto, apesar de as influências também estarem por lá para quem quiser ir à procura delas. A começar logo pelo título: «Django Libertado». Arriscaria mesmo dizer que tem mais de spaghetti (salvo seja) a brilhante sequência inicial de «Sacanas Sem Lei» do que todo o «Django Libertado».

A história do novo filme do autor de «Pulp Fiction» é simples e conta-se em poucas linhas. Depois de ser libertado pelo dentista/caçador de prémios Dr. King Schultz (Christoph Waltz) o escravo Django (Jamie Foxx) junta esforços ao seu novo amigo para ir à procura da sua esposa e tentar libertá-la do destino da escravidão, assunto que acabou por se tornar um dos temas fortes e mais polémicos do filme quando se fala dele. E se o realizador tem sido criticado pela forma como abordou este tema sensível há uma frase dita por Django, quase que profetizando essas mesmas críticas, que talvez justifique o ódio e as críticas que o filme tem gerado, quando às tantas a personagem principal do filme diz ao vilão de serviço que já está habituado aos costumes dos americanos à época, por isso não se sente tão chocado quanto o seu comparsa alemão, talvez habituado a costumes mais civilizados. Quiçá esta ferroada no orgulho americano tenha doído tanto a alguns que gostam de limpar a História para debaixo do tapete.

Mas o que Tarantino nos mostra é sobretudo a senda deste par de anti-heróis ao longo de quase três horas que não pesam tanto quanto isso. E o que é «Django Libertado»? Tudo aquilo que seria de esperar de um western feito por Quentin Tarantino: violência a rodos (não se percebe o porquê de tanto alarido em relação a este elemento do filme, quando a violência é algo que sempre fez parte do universo de Tarantino), sequências bem filmadas (a morte dos Brittle ou o massacre em casa de Calvin Candie, são dois dos exemplos maiores), personagens marcantes (sobretudo os três secundários: o já referido Dr. King Schultz, Stephen e Calvin Candie, interpretados por Samuel L. Jackson e Leonardo DiCaprio, respectivamente) e diálogos com frases que ficam na memória.

Contudo, «Django Libertado» não é um filme perfeito e está longe do melhor que Tarantino já nos deu. A começar por uma personagem principal que acaba por ser um pouco abafada pelo elenco secundário e não tem o carisma de, por exemplo, A Noiva de «Kill Bill», para referir um filme do cineasta com algumas semelhanças em relação a este western. Por muito que se tenha esforçado Jamie Foxx não consegue estar à altura de Christoph Waltz, que surge num registo bastante parecido ao anterior Hans Landa de «Sacanas Sem Lei», e muito menos de DiCaprio, um dos grandes injustiçados nas nomeações aos Óscares deste ano (o que será que falta ao actor fazer para cair nas boas graças da Academia?), que criou um dos vilões mais bem conseguidos da obra de Tarantino.

E depois temos alguns elementos que parecem um bocado fora do baralho, desde a sequência da perseguição dos encapuçados ao duo protagonista (tem piada, é certo, mas é um autêntico OVNI dentro do filme, no sentido em que o tom de comédia pura destoa um bocado de tudo o resto, e bem podia ter ficado na sala de montagem à espera de ser incluído como extra na previsível edição em DVD do filme) à utilização de hip hop numa das cenas capitais do filme, que sem som ficaria excelente, se não mesmo perfeita: a sequência final do massacre em casa de Calvin Candie (não é preciso ir mais longe, Sam Peckimpah fez algo semelhante em «A Quadrilha Selvagem» e com um resultado muito melhor). Por fim, o cameo de Quentin Tarantino é um pouco sofrível, que desta vez deveria ter ficado apenas atrás das câmaras.

Dito isto e para concluir um texto que já vai longo, «Django Libertado» é um filme que todos os fãs do cinema de Tarantino vão gostar, mas não deixa de ser mais do mesmo. Um filme competente, não há dúvidas em relação a isso, e uma boa homenagem a um determinado género, mas que muito provavelmente apenas irá agradar a 100 por cento aos que, como alguém disse há alguns anos e foi bastante criticado por causa disso, acreditam ou pensam que o Cinema nasceu com o autor de «Cães Danados». Não começou e há muito para conhecer antes dele. Mas se um filme como «Django Libertado» servir para estes cinéfilos irem atrás de um dos géneros históricos do cinema norte-americano, que tem centenas de obras à espera de serem (re)descobertas (este meu post de ontem, escrito um bocado a quente no final da visualização do filme de Tarantino, contém muito poucos exemplos), já é muito bom. E enquanto divertimento, mesmo partindo de um tema muito sério e pesado, «Django Libertado» também não vai nada mal.

Nota:3/5

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