terça-feira, 26 de março de 2013

Ferrugem e Osso, de Jacques Audiard (2012)

Jacques Audiard tem sido um dos melhores cineastas a sair de França nos últimos anos. Dono de uma curta, mas segura, carreira (seis filmes entre 1994 e 2012) o realizador gaulês chegou ao ano passado com a pesada tarefa de fazer algo a seguir a dois grandes filmes: «De Tanto Bater o Meu Coração Parou» e «Um Profeta». Este último valeu-lhe mesmo um mais do que merecido reconhecimento mundial ao ser nomeado para Melhor Filme Estrangeiro nos Óscares. Teve o azar de concorrer contra outra obra-prima do cinema recente: «O Laço Branco», de Michael Haneke, que acabou por conquistar a estatueta dourada. Por tudo isso, e por ser um dos realizadores favoritos cá da casa (os interessados podem seguir neste link uma espécie de especial que lhe dediquei durante a última edição da Festa do Cinema Francês, quando Jacques Audiard foi um dos homenageados), «Ferrugem e Osso» era aguardado com enormes expectativas. E como acontece na maior parte das vezes, com enormes expectativas, vêm enormes desilusões.

Dizer que «Ferrugem e Osso» é um mau filme é uma barbaridade, porque não é. Mas tendo em conta os filmes a que Audiard nos habituou ao longo da sua carreira, o seu mais recente filme acaba por saber a pouco. Muito pouco. Apesar de não fugir muito dos seus universos (a história centra-se em duas figuras que vivem à margem da sociedade dita normal), falta a «Ferrugem e Osso» uma certa tensão e nervosismo que existia nos outros filmes do cineasta, nomeadamente desde «Nos Meus Lábios», e se notava em cada plano dos três filmes anteriores de Audiard. E esta talvez seja a maior desilusão do filme, que nem a presença de Marion Coutillard (que apesar de ter uma forte interpretação, está longe do seu melhor) ajuda a melhorar um filme que se fica apenas pela mediania, precisamente por sentirmos a falta dessa tensão à flor da pele que Audiard nos habituara a sentir nos seus filmes.

Um dos principais problemas de «Ferrugem e Osso» é uma história um pouco frouxa, que ainda por cima avança aos abanões, como se alguém se tivesse esquecido de ler o capítulo 'como encadear a acção' nos manuais que ensinam a fazer bom Cinema. Esta falha faz com que certos pormenores não se percebam muito bem na história de Alain (Matthias Schoenaerts) e Stéphanie (Marion Cotillard), o par central de «Ferrugem e Osso», que fica bastante distante de outros pares presentes nas obras de Audiard (que nem sempre correspondem a um par amoroso, note-se). Este apontamento não é tanto dirigido à forma como o se optou por montar o filme, que funciona em certos filmes, mas não neste caso, onde o método se prova ineficaz. Parece-nos que ficou muito de fora por contar e acaba por ter um efeito oposto ao que talvez fosse o desejado. Mesmo que consigamos perceber por que razão determinada cena vem a seguir a outra e até faz sentido, nunca percebemos muito bem como fomos lá parar. Falta-lhe algo para conseguirmos compreender melhor o que se passa no universo de «Ferrugem e Osso».

Esta é a principal falha num filme de alguém que no passado nos habituou a obras mais seguras. Quanto à dureza do 'mundo' de Audiard, essa continua presente. Pena não estar à altura dos restantes filmes do cineasta.

Classificação: 3/5

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