segunda-feira, 29 de abril de 2013

IndieLisboa 2013, Dia 11: Dores de crescimento

O último dia de IndieLisboa em 2013 acabou em grande, mas com mais uma pequena desilusão: «Frances Ha», de Noah Baumbach, cujas expectativas estavam tão em alta que acabou por desiludir um pouco. Antes houve tempo para conhecer a história de Yang Ja, no documentário «When Night Falls», de Liang Ying. O festival terminou com «Starlet», um filme belo e simples de Sean Baker, um dos repetentes do IndieLisboa.


A pena de morte foi o tema de um dos momentos fortes do IndieLisboa (as duas sessões dedicadas a «Death Row», o projecto televisivo de Werner Herzog sobre a pena capital nos EUA) e é o pano de fundo da história de Yang Jia, um jovem chinês condenado à morte em 2008, ano em que Pequim recebeu as Olimpíadas. «When Night Falls» recupera o processo pouco claro que levou à condenação do jovem através do olhar da mãe, com o recurso a sequências encenadas, pois as únicas imagens relativas ao julgamento e ao crime cometido por Yang Ja são fotografias que surgem no início do filme para contextualizar a história com a ajuda de legendas e uma voz off.

Filme de denúncia, «When Night Falls» é mais um retrato de uma justiça cega num país onde os direitos humanos são desrespeitados. O caso de Yang Jia dá conta de um processo onde o jovem poucas hipóteses teve para se defender e evitar a condenação à morte, segundo nos relata o documentário, que contou com o aval da mãe de Yang Jia e utilizou como fontes alguns dos textos de Yang Jia e do activista Ai Wei Wei, publicados na Internet, um dos principais palcos de contestação às políticas chinesas, mesmo que seja altamente controlada pelas autoridades. E por várias vezes o filme refere que os principais apoiantes da causa da mãe do condenado são precisamente estes ciber-activistas.

Apesar de alguns aspectos interessantes, sobretudo na forma como Liang Ying utiliza as imagens oficiais no início do filme para fazer o contexto do processo, «When Night Falls» acaba por perder alguma força à medida que vai avançando e as sequências encenadas não acrescentam muito mais à história. Funciona como retrato do que pretende denunciar, mas talvez tenha sido demasiado longo para as suas intenções finais.

Classificação: 3/5


(com spoilers)
Aguardar um filme com as expectativas demasiado em alta pode ser uma chatice. Foi o que aconteceu com «Frances Ha», um daqueles filmes que queremos tanto gostar e depois acabamos por gostar assim assim. Não que o mais recente filme de Noah Baumbach seja um mau filme, longe disso. A culpa de não termos gostado tanto como queríamos foi da expectativa criada em torno da história de Frances (Greta Gerwig), uma jovem de 27 anos a atravessar um período complicado em que todos à sua volta começam a assentar, menos ela, que continua a viver no seu universo e aparentemente não quer crescer. Não é propriamente a jovem que era quando conheceu a sua melhor amiga na universidade, com quem partilha apartamento no início do filme, mas também ainda não é a adulta 'responsável' que todos acham que já devia ser. A eterna 'encalhada', como a define um dos amigos.

O que move Frances são os seus sonhos, de ser uma bailarina bem sucedida, continuar a viver com os amigos e a fazer o que lhe apetece como sempre fez (ela não é desarrumada, é ocupada, como gosta de sublinhar ao longo do filme sempre que é criticada por não arrumar o quarto), até ao momento em que todos deixam de ser assim, em prol de uma realidade mais 'sólida', mas que ao mesmo tempo apenas é atingível se abdicarem de parte de si. E o exemplo da melhor amiga de Frances é paradigmático disso mesmo. Mas Frances não faz parte desse universo e de certa forma consegue fugir desse destino, pois apesar de eventualmente atingir o sucesso continua a ser igual a si própria no final do filme, a jovem desenrascada que arranja solução para tudo.

É fácil gostar de «Frances Ha» e apaixonar-mo-nos pela criação de Gerwig, que além de interpretar a personagem principal assinou o argumento em conjunto com Baumbach. Tem uma protagonista fantástica (Frances), Nova Iorque fotografada magnificamente a preto e branco e uma música de David Bowie que acabou por se tornar a banda sonora oficial do último dia do IndieLisboa. Mas no final ficamos com uma ligeira sensação de desilusão. Apenas porque queríamos mesmo gostar (mesmo) muito de «Frances Ha».

Classificação: 4/5


Para terminar esta edição do IndieLisboa arriscamos um outro nome conhecido. Tal como no primeiro filme optámos por começar com dois velhos amigos conhecidos no festival lisboeta (a dupla Gustave de Kervern e Benoît Delépine) o último filme ficou reservado para o regresso de um nome que já andou pelo IndieLisboa: Sean Baker, cujo anterior «Prince of Broadway» esteve presente na Competição Internacional na edição de 2009. Na altura este simpático filme, sobre um imigrante ilegal em Nova Iorque que não sabe o que fazer quando de repente se vê a tomar conta de um filho de dois anos cuja existência desconhecia, foi suficiente para que o nome de Sean Baker nos ficar retido na memória.

Em «Starlet» as ruas de Nova Iorque são trocadas pelo sol da Califórnia, o estado onde decorre a acção do filme que relata a história de Jane (Dree Hemingway), uma jovem que se torna amiga de Sadie (Besedka Johnson) depois de esta pouco simpática senhora idosa lhe vender um termo em segunda mão, termo esse que esconde uma quantia generosa de dinheiro. Aos poucos a relação improvável entre as duas vai crescendo e Sadie encontra em Jane uma companheira com quem partilha os seus segredos depois de uma desconfiança inicial, ao mesmo tempo que Jane encontra em Sadie uma nova amiga, que nada tem a ver com o casal com quem partilha casa.

«Starlet» volta a não ser a obra-prima do IndieLisboa (apesar de este ano ter gostado de muitos dos filmes visionados, nenhum conseguiu atingir o estatuto de excepcional), mas conseguiu ser uma agradável surpresa na recta final do festival. Um filme belo e simples, que não vai além do que aquilo que é suposto ser e sem qualquer pretensiosismo, factor que por vezes acaba por jogar contra este tipo de obras. E coloca Sean Baker no lote de nomes a seguir em futuras edições do festival.

Classificação: 4/5

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